Saturday, September 20, 2008
Monday, June 21, 2004
Miguel Barcelos, figura central de "O Terceiro Servo", é um jovem açoriano que veio para Lisboa disposto a triunfar como jornalista. Uma notícia de jornal sobre o assassínio de um velho amigo fá-lo regressar à sua ilha: a intenção de investigar o caso não é mais do
que um pretexto para uma viagem interior, em busca de si próprio.
Joel Neto, autor do livro, nasceu e cresceu em Angra do Heroísmo, até rumar à capital com o fito num curso universitário de Relações Internacionais, depressa trocado pelo jornalismo. As semelhanças entre personagem e escritor são evidentes. "Uma primeira obra fica sempre marcada por uma dimensão autobiográfica", assume.
"A viagem que Miguel faz é física e moral. Eu fiz muitas vezes essa viagem física entre Angra e Lisboa. Nos últimos dois anos, fiz também a viagem moral", refere Joel Neto, admitindo os traços comuns entre si e a personagem que criou. Mas salienta o trabalho ficcional, receoso de comparações excessivas: "O Miguel não é o Joel. A minha vida não tem interesse
para ninguém."
Com um excelente domínio da técnica narrativa e da língua portuguesa, conseguindo manter, do princípio ao fim, o ritmo da prosa, em "O Terceiro Servo" Joel Neto quis retratar uma geração, ou pelo menos parte dela – a sua. Que outra poderia conhecer tão bem? Nascido precisamente no ano do 25 de Abril, considera-se produto de uma expectativa de certa forma falhada.
"Tentei, de facto, ser testemunha de um tempo e uma geração - a minha. Uma geração algo desiludida, fruto de uma Revolução que desconhece, mas também filha de uma esperança que tem dificuldade em confirmar: na igualdade, na oportunidade, no direito à promoção por mérito... valores que os nossos pais, que fizeram a Revolução, nos incutiram."
Em vez dessa terra prometida, estes jovens confrontam-se com "o desemprego, a frustração profissional quando empregados, o trânsito, o stress, a pressão... E apesar de tudo, acreditamos que pode ser melhor. Ambiciosamente, quis ser testemunha dessa réstia deesperança", conclui.